sexta-feira, 16 de novembro de 2007

CSQ nas Mãos!!!

Vou fazer um relato com o maior número de detalhes que eu possa lembrar. Sei que alguns não vão gostar, mas também sei que pode ajudar outrens, assim como os vários relatos que li nos ajudaram bastante.

Nossa entrevista ocorreu na Terça-Feira (13/11/2007) às 11 Horas.

Primeiro um breve resumo do nosso perfil

Eu, Craisse, requerente principal, 26 anos, casado, formado em fisioterapia e especialista em Pilates, 44 meses de experiência profissional comprovada na área, aproximadamente 1000 horas de francês e inglês fluente, e uma filha (que não nos acompanha no processo).

Edjinha, minha esposa, 26 anos, formada em fisioterapia e especialista em Neuropediatria, 32 meses de experiência profissional comprovada na área, aproximadamente 200 horas de francês e inglês intermediário (enferrujado).


A chegada à São Paulo:

Saímos de Recife no Domingo (11/11/2007), ou pelo menos deveríamos ter saído já que o vôo atrasou em mais de uma hora, às 00:30 hs (então já era Segunda-feira, 12/11/2007), e chegamos à Guaralhos - São Paulo às 6 horas da matina, depois de uma breve escala no Rio de Janeiro. Como se diz aqui na minha terra, estávamos só o bagaço (da cana). Em seguida pegamos o ônibus da Gol e fomos pra Congonhas (aliás, acho que todas as companhias aéreas oferecem esse serviço pros seus clientes). De Congonhas pegamos um táxi (R$ 30,00) até o Hotel San Gabriel (diárias à partir de R$78,00), que vale o quanto custa e tem a grande vantagem de estar a 5 minutos a pé do local da entrevista (4 pra ser mais exato).
Chegando ao Hotel, finalmente achava que poderia descansar um pouco. Ledo engano. Resolvemos que seria melhor irmos ao Consulado Geral do Canadá explicar que voltaríamos no mesmo dia da entrevista para Recife, e perguntar se seria possível, em caso de aprovação na entrevista é claro, entregarmos nossa papelada no período da tarde já que o horário para dar entrada em vistos é o da manha. Encontramos por coincidência andando pela Rua Augusta o casal Hamilton e Dani que tinham acabado de sair da entrevista com os CSQ’s nas mãos ainda quentes, e também iam ao Consulado fazer o mesmo, então fomos juntos. Um senhor chamado Téo nos autorizou a entregar nossa papelada na parte da tarde. De lá fomos dar uma volta pela cidade (entenda por 25 de março, que inferno).

Le jour “J”

Acordamos por volta das 8 horas e ainda deu tempo de dar uma lida em algumas coisas (só por desencargo de consciência). Chegamos ao Crowne Plaza às 10:30 hs (achei a meia hora de antecedência ideal para dar uma acalmada), como todos já comentaram, ela pede que anuncie a chegada 5 minutos antes da hora marcada e assim o fizemos. Subimos ao 12º andar e fomos recepcionados na porta do elevador pela Madame Legalt que nos comprimentou com um: Bon Jour, ça va?
E foi ai que cometi o primeiro erro, respondendo: Ça va bien, et toi?
Olhei pra minha esposa com uma cara de “xii, dei a primeira cagada”...
Entramos na sala, ela nos pediu que sentássemos e já foi de cara perguntando se nós viemos de Olinda. Eu respondi que sim e ela perguntou onde ficava e se era longe de São Paulo. Respondi que ficava em Pernambuco, na região Nordeste, e falei que a viagem de avião normalmente leva 3 horas, mas que a nossa tinha levado praticamente o dobro por causa da escala no Rio.
Então ela prosseguiu e disse que antes de começar gostaria de ver nossos passaportes. Os observou, digitou algo, me falou que eu tinha uma filha e me perguntou se eu não a levaria. Eu respondi que não e ela não pediu pra olhar nenhum dos documentos que havia levado sobre minha filha (e deram o maior trabalho pra conseguir).

Após, nos explicou que a entrevista consistia na verificação dos originais dos documentos que havíamos enviado para Buenos Aires, na avaliação do nosso francês e inglês, e como estava nosso projeto de imigração.

Começou por mim que sou o requerente principal. Comentou que eu era formado em fisioterapia e me pediu o Diploma. Mostrei. Logo em seguida o Histórico Escolar do curso de Fisioterapia. Também entreguei. Ela me perguntou qual a duração desse curso e eu respondi que era de 5 anos.

Não deu nenhuma atenção ao meu curso de Pilates e passou para comprovação da experiência profissional. No meu caso sou proprietário do meu local de trabalho atual, então ela me pediu algo que comprovasse isso. Mostrei o Contrato Social da clínica, Imposto de Renda Pessoa Jurídica e Pessoa Física e alguns comprovantes de pagamentos dos impostos. Ela olhou muito rapidamente, fingiu que tava entendendo alguma coisa e me devolveu. Perguntou se a clinica estava bem e eu expliquei que para se obter um retorno financeiro satisfatório no nosso ramo levaria mais algum tempo, mas pro tempo que estava aberta (menos de 2 anos) ela estava bem sim. Depois passou para as minhas declarações de estágios. Ai levou um pouco mais de tempo pra explicar tudo. Expliquei que fiz no total 5 estágios durante a faculdade, 3 obrigatórios e 2 voluntários. Ela entendeu, mas quis saber por que que eu tinha feito dois estágios VOLUNTÁRIOS. Expliquei que na nossa área é extremamente raro se conseguir estágio remunerado e que sentimos a necessidade de um maior contato com o paciente durante o período acadêmico. Inclusive uma das declarações de estágio voluntário estava num papel horrível, não era timbrado, tinha apenas um carimbo da clinica, rasgado na ponta, PODRE. Fiz um “H” dizendo que aquele tinha sido o meu estágio mais importante, pois tinha sido meu primeiro estágio e conseqüentemente meu primeiro contato com um paciente de verdade, e me ensinou como se portar diante do mesmo (quem é da área de saúde sabe do que eu estou falando). Ela gostou da explicação e considerou todos meus estágios. Um detalhe importante aqui, ela na fala RIEN DE PORTUGAIS. As únicas coisas que ela entende nas Declarações são: o titulo “Declaração”; o nome do candidato, a data do estágio, e o número de horas. Ou seja, se na declaração estivesse a receita de um delicioso Petit Gâteau com seu nome no meio, um data qualquer e um número de horas, ela aceitaria. Desde que soubesse falar do “estágio”. Pra finalizar essa parte me perguntou por que eu havia aberto a clinica logo após ter me formado ao invés de ser empregado de outras empresas. Eu expliquei que achei que aquele era um momento interessante para entrar no mercado já que o Pilates ainda era algo recente na cidade.

Após uma breve pausa veio a pergunta: “et pourquoi vous allez au Québec, monsieur?”, exatamente desta forma. A pergunta mais treinada por todos. Mandei bala, disse que sempre sonhei em morar fora porque amo conhecer novas culturas, novos lugares, novas línguas, mas que o principal motivo para nosso projeto de imigração era a qualidade de vida que o Québec e o Canadá nos oferece, ai dei exemplos como a segurança indiscutível, a saúde pública de qualidade (este item é discutível), a educação gratuita para as crianças, a economia estável, um mercado de trabalho em demanda, ai ela falou “d’acord, d’acord...” e eu não parava (pensei: perai que agora ela vai me ouvir), falei, falei, falei... Quando ela disse o 5º d’acord eu PAREI. Ai mostrei uns papeis que mostram as perspectivas do mercado de trabalho da Província de Québec e da cidade de Montreal, para os próximos 3 anos, e que diz que fisioterapia tem uma perspectiva “très favorable”. Ela aproveitou para perguntar que região do Québec nós preferíamos morar. Respondi que Montreal era nossa primeira opção, por causa das ofertas de emprego e porque todos nossos amigos que estavam no processo de imigração estavam indo também para Montreal, e eu achava que ter os amigos por perto ajudaria no processo de adaptação.
Perguntou se havíamos ido ao Quebec. Respondemos que não e ela mandou em seguida: “donc, como vocês pensam em conseguir um emprego no Québec?” Respondi que inicialmente faríamos a fracisação e nossa equivalência de diploma, que aliás já tínhamos iniciado os contatos com a Ordem dos Fisioterapeutas do Québec por email, e aproveitei para mostrá-los, mas eu tinha a possibilidade de trabalhar com o Pilates mesmo antes da equivalência, já que não era necessário ser membro da ordem para trabalhar com o Pilates. Após a equivalência conseguiríamos emprego sem problemas, devido à demanda no mercado de trabalho e a nossas qualificações profissionais.

Entramos então na comprovação dos cursos de línguas. Perguntou onde eu havia estudado francês e pediu para ver os certificados ou declarações. Respondi que havia estudado francês na escola por 7 anos, e após decidir imigrar pro Québec retomei as aulas de francês dessa vez com um professor particular. Perguntou se o professor particular era bom e se gostávamos dele, e respondemos que sim, que era um grande amigo!

Nesse momento passou a bola pra minha esposa, perguntando se fazíamos aulas juntos. Ela respondeu que sim, mas que ela havia começado as aulas um pouco depois de mim, e eu completei dizendo que foi quando eu consegui lhe convencer de imigrar (ainda namorávamos nessa época). Então Mme. Legault não perdeu a oportunidade e perguntou: E por que você está segura agora de que quer imigrar? Minha querida esposa se enrolou um pouco pra explicar (errando um pouco os tempos verbais, já que ela tem bem menos maturidade com a língua), mas se saiu bem, dizendo que no inicio ela não sabia nada sobre o Québec, mas depois de muitas pesquisas na internet viu que era possível vencermos lá.

Como comprovantes de estudos perguntou se ela era bacharel em fisioterapia e ela não entendeu de primeira, mas na segunda vez entendeu respondeu que sim. Então ela pediu pra ver o diploma e o histórico do curso. Percebeu que tínhamos feito na mesma universidade, e, eu completei dizendo que fomos também da mesma sala.

Perguntou se ela trabalhava num Centro de Reabilitação e ela respondeu que sim, então ela perguntou: “En temp plein?”, e ai ela se embananou toda. Começou a responder algo que não tinha nada a ver, e Mme. Legault repetindo “en temp plein?, en temp plein?, en temp plein?”. Ai eu ajudei em francês: “Elle t’a demandé si tu travaille pendant toute la journée, le matin et l’après-midi”. Ai ela entendeu... respondeu que não, que trabalhava apenas à tarde neste centro, e pela manha ela me ajudava na administração da nossa clínica. Pediu pra ver a carteira de trabalho dela, e eu entreguei.
Em seguida perguntou que tipo de clientela freqüentava o Centro e ela respondeu que era freqüentado por crianças que sofriam de distúrbios neurológicos. Mme Legault então pediu exemplos. Paralisia Cerebral, Síndrome de Dawn, Distrofia Muscular, etc.
Então Mme. Legault perguntou se ela amava o trabalho dela , e ela respondeu que sim, que ela ama o que ela faz. Também perguntou se ela achava que seria fácil conseguir emprego no Québec (como quem diz, com esse seu francês minha querida, jamais), e ma femme respondeu que iria fazer inicialmente a francisação e a equivalência do diploma, mas após a equivalência não seria difícil encontrar emprego visto que tinhamos qualificação para entrar no mercado de trabalho e a demanda de mão-de-obra qualificada é grande.
Aproveitando a deixa da qualificação profissional aproveitei para mostrar a declaração da especialização em pediatria que ma femme tinha acabada de concluir e o Certificado do curso de Bobath (técnica bastante conhecida no meio). Minha mulher ficou “P” da vida comigo, porque ela não estava preparada pra falar sobre isso, ficou nervosa. Então Mme. Legault pediu pra que ela explicasse a Tese da Especilização que é sobre uma doença raríssima (Fibrodisplasia Ossificante Progressiva). Ai pronto travou. Tentou, tentou, conseguiu dizer alguma coisa, algumas características da doença, e eu acho que Mme. Legault ficou satisfeita.

Passou para as declarações de francês. Perguntou mais uma vez se fazíamos aulas juntos e perguntou se ela tinha oportunidade de falar durante a aula. Ma femme ficou desapontada, mas respondeu que sim, que ela falava durante a aula, mas que estava bem nervosa nesse momento da entrevista, por isso não estava falando tão bem.

Então não mais que de repente Mme. Legault vira pra mim e pergunta : “and how is your english?” Respondo: “My english?” (não o da vovozinha aqui). E ela: YEAH!!!
Expliquei que naquele momento meu inglês tava um pouco confuso por causa do estudo de outra língua, e que antes de voltar a estudar francês me sentia muito mais seguro com o inglês, mas agora já não tinha mais essa certeza.
Então ela perguntou onde estudei inglês. Respondi que estudei nos Estados Unidos, e ela se interessou de saber onde. Daí o papo fluiu numa boa, sem nenhuma palavrinha em francês no meio (aliás, saiu um aussi no lugar de also). Fiquei surpreso, pelo tempo que eu não falava inglês, poderia ter saído muito pior.


Após 3 minutos e meio em silêncio (digitando), que pra nós pareceram 3 horas, ela levantou a cabeça, abriu um sorriso e soltou o tão esperado “Vous êtes acceptés”! E eu respondi bem alto, mas bem alto mesmo: MERCI BEAUCOUP, MADAME!! Ma femme ficou rindo de mim!

Até esse momento a entrevista durou 41 minutos, na sua grande parte num clima tranqüilo. Após nos entregar os CSQ’s e pedir para conferirmos se estavam corretos, nos deu diversas dicas. Falou que o maior investimento que podíamos fazer ainda no Brasil era estudar francês porque facilitaria muito a adaptaçãoe a inserção no mercado de trabalho. Perguntou se nós conhecíamos a Radio-Canadá, a Radio-Canada Internacional e o programa J’adopte um Pays, tudo isso pra mostrar a importância da língua, e mostrar as dificuldades de se conseguir um emprego quando não se fala bem (Patrick e Valeria estão famosos mesmo).

Ainda deu tempo de perguntar onde ela morava em Montreal (ela mora em N.D.G. - Notre-Dame-de-Grâce). Eu falei que era uma das nossas opções além de Plateau, e ela disse que em Plateau não tem muitas arvores e é caro. Ai falei, e perto do Parc La Fontaine, e ela respondeu, é mais caro ainda.

Assim encerramos nossa entrevista com Madame Anne Legault.

Agora vou deixar minhas impressões e dicas que serviram pra nós.

Uns acharam ela simpaticíssima, outros apenas simpática, outros nem tanto e outros nem um pouco. Nós a achamos simpática até onde o profissionalismo permite. Na verdade ela é bem mais profissional do que simpática. Como ela mesma falou, ela está lá pra verificar nossos documentos originais, avaliar nosso francês e inglês (se for o caso), e avaliar nosso projeto de imigração. Não é nenhuma mãe nenhuma carrasca. Se tudo isso corresponder ao que você disse no dossiê enviado pra Buenos Aires você será aceito.

O francês de Mme Legault é muito fácil de ser entendido. Sem sotaque quebecois forte, fala lentamente e diz que se não estivermos compreendendo ela pode falar ainda mais devagar e se ainda assim não entendermos ela desenha (só faltou dizer isso).

Saibam tudo que seu parceiro está preparado pra falar. Eu por exemplo acabei colocando minha esposa numa enrascada, já que ela não estava preparada pra falar da pós e do curso de Bobath e nem tem francês suficiente para desenrolar na hora.

A pasta fica com quem fala melhor. Quando um não entende o outro já mete o documento na mesa e ajuda bastante.

Tínhamos duas bolsas enormes cheias de papel de pesquisas na Internet, vários livros, mapas, etc. e ela não olhou nada. Mas mesmo assim é melhor sobrar do que faltar.

O foco de Mme. Legault é basicamente a formação da pessoa, a experiência profissional e a língua. Esses foram os itens que ela realmente quis ver.

Acho que é isso. Se lembrar de algo mais eu escrevo depois.

Mais uma vez desculpa pelo longo texto, mas a intenção é ajudar.
Um grande abraço e boa sorte aos que ainda tem uma entrevista pela frente!!!